O crime que eu cometi

Por: Carolinne Freitas

Hoje eu precisei escrever. Hoje eu pedi a Deus pra não existir mais bloqueio. Hoje ta doendo tanto que só mesmo a escrita pra me salvar. Porque hoje eu vi alguém próximo entrar nas estatísticas. Porque hoje eu pude vê de perto a dor que passamos todos os dias e ninguém vê, ninguém escuta. Hoje dói porque eu nasci mulher e junto com isso nasci com a dor de ter sempre um monstro ao meu redor.

Você deixa de sair.

Você deixa de beber.

Você deixa de usar aquele vestido bonito mas que “daria motivo”.

Você não pega carro particular sozinha porque se não “tava querendo”.

Você não anda depois das 22 horas sozinha porque isso “já é motivo”.

Você vai na padaria de calça e tem medo até de voltar da escola/trabalho andando.

Você tem medo de pegar ônibus.

Você tem medo de andar de metrô.

Você tem medo de ir de trem.

Você só tem medo porque você nasceu mulher.

Você não vai ao banheiro sozinha, você tem medo de usar vestidos mais justos, você deixa até de usar aquele batom vermelho favorito.

E no menor descuido ele ta lá pra te destruir.

Pra te invadir como se você não fosse nada.

Pra te rasgar como se você fosse uma folha de papel qualquer.

Pra te pegar e jogar como se você fosse brinquedo.

Pra te alisar como se você quisesse.

Ele ta lá pra destruir você e sair inteiro.

Porque ele nasceu homem e você mulher.

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